sexta-feira

Divina

Buenos Dias – digo-te com a voz ainda rouca de um despertar prolongado.

A resposta silenciosa que me retribuis diz-me mais do que mil e cem palavras. Mas não o sabes. É o ténue brilho que tens no olhar, ténue mas intenso, que fala por ti. O modo como não pestanejas quando me fitas, como me absorves as entranhas, esvaindo o meu ser pela retina. Nesses momentos, podem desmoronar-se as paredes que delimitam este quarto. Caiam as fundações deste velho barraco. Pouco me importa, nada me importa. Apenas tu.
Tento-me iludir com uma convicção de que te sou especial. Tento abstrair-me do facto óbvio de que foi o cio que te conduziu a estes lençóis...
Deixa-me viver um pouco mais neste mundo de ilusão. Fecho agora os olhos. Sei que quando os reabrir não mais aqui estarás. Quando saíres lambe-me a cara.

Cadela sem nome, para mim serás a Divina.


Joel, 21 de Julho de 1970, Anarquim de Baixo

1 comentário:

Anónimo disse...

Lindo... Continua... Voltarei para te ler...