Sentado na sombra de uma abacacheira, procuro encontrar na natura um rumo para a minha vida.
À minha frente, pasta um pequeno coelho. É estranho, mas aparenta não ter qualquer receio da minha pessoa (convenhamos também que vinte quilos de puto mal cheiroso não assusta nem uma galinha...). Mais estranho aínda, o pequeno roedor vem-se aproximando lentamente de mim, como que a pedir um afágo. Sorrio...Atiro-lhe um pedaço de bolacha de aveia (a minha merenda).
Ele pula, pega-a com as suas duas patas dianteiras, mostra-me os seus dentinhos dianteiros. Acredito que me estava a devolver um sorriso.
Assim que dá uma dentada na bolacha, a sua expressão muda abruptamente. Emite um estridente e estranho som, uma espécie de tosse seca com gritos histericos. Olha-me nos olhos, aproxima-se lentamente das minhas pernas e espeta-me uma monstruosa dentada que me arranca metade do gémeo da perna esquerda. E foge...
Esguinchos de sangue,suficientes para extinguir um fogo que consuma cem ectares de floresta, jorram da minha perna. Daí a escutar o som faminto dos primeiros abutres, foram segundos. Também as hienas começaram a dar sinais da sua próximidade.
Petrificado, subo para o cume da abacacheira, onde procuro engenhar um curativo com folhas e ramos. Lá em baixo, cinco hienas riem-se, ávidas de uma queda que me seja fatal.
Grito por socorro, ninguém me responde...
Passam-se duas horas, a lua já vai alta, sem que as feras pareçam dispostas a dar-me tréguas. Sinto-me fraco e a entrar em estado de alucinação. Cada gota de sangue perdida é agora um passo rumo à morte.
O mundo desfoca-se, até que se apaga de vez.
Acordo com o sol a bater-me nas faces. Ao longe, julgo ouvir alguém chamar pelo meu nome. O som desse chamamento vem-se aproximando. Tento responder, mas as forças já não me o permitem.
Alguns minutos depois, a confirmação. São os meus irmãos! Estou salvo!- pensei.
Ajudam-me a descer da árvore, ignorando os meus avisos desesperados de que as hienas podem surgir a qualquer momento.
Levam-me às cavalitas para casa. De novo, o mundo apaga-se.
Quando acordo, não sei bem dizer onde estou. O nevoeiro que se abate sobre os meus olhos vai-se dissipando lentamente. Começo a distinguir um farto bigode e uns negros olhos que me fitam...Arrepio-me. É a mãe....
Quando finalmente me sinto acordado e consciente, ela pergunta-me se já a consigo ver e ouvir bem. Aceno afirmativamente com a cabeça.
Bem ao seu estilo, a P*TA diz-me:
- Meu grandessíssimo CAR**HO, esta é para aprenderes a não ir brincar para a savana e a não sujares a M*RDA da roupa com esse teu sangue amaldiçoado!
Recordo-me apenas do som seco do punho a embater na minha nuca.
O mundo apaga-se de novo...
Joel, 6 de Julho de 1970, Anarquim de Baixo
À minha frente, pasta um pequeno coelho. É estranho, mas aparenta não ter qualquer receio da minha pessoa (convenhamos também que vinte quilos de puto mal cheiroso não assusta nem uma galinha...). Mais estranho aínda, o pequeno roedor vem-se aproximando lentamente de mim, como que a pedir um afágo. Sorrio...Atiro-lhe um pedaço de bolacha de aveia (a minha merenda).
Ele pula, pega-a com as suas duas patas dianteiras, mostra-me os seus dentinhos dianteiros. Acredito que me estava a devolver um sorriso.
Assim que dá uma dentada na bolacha, a sua expressão muda abruptamente. Emite um estridente e estranho som, uma espécie de tosse seca com gritos histericos. Olha-me nos olhos, aproxima-se lentamente das minhas pernas e espeta-me uma monstruosa dentada que me arranca metade do gémeo da perna esquerda. E foge...
Esguinchos de sangue,suficientes para extinguir um fogo que consuma cem ectares de floresta, jorram da minha perna. Daí a escutar o som faminto dos primeiros abutres, foram segundos. Também as hienas começaram a dar sinais da sua próximidade.
Petrificado, subo para o cume da abacacheira, onde procuro engenhar um curativo com folhas e ramos. Lá em baixo, cinco hienas riem-se, ávidas de uma queda que me seja fatal.
Grito por socorro, ninguém me responde...
Passam-se duas horas, a lua já vai alta, sem que as feras pareçam dispostas a dar-me tréguas. Sinto-me fraco e a entrar em estado de alucinação. Cada gota de sangue perdida é agora um passo rumo à morte.
O mundo desfoca-se, até que se apaga de vez.
Acordo com o sol a bater-me nas faces. Ao longe, julgo ouvir alguém chamar pelo meu nome. O som desse chamamento vem-se aproximando. Tento responder, mas as forças já não me o permitem.
Alguns minutos depois, a confirmação. São os meus irmãos! Estou salvo!- pensei.
Ajudam-me a descer da árvore, ignorando os meus avisos desesperados de que as hienas podem surgir a qualquer momento.
Levam-me às cavalitas para casa. De novo, o mundo apaga-se.
Quando acordo, não sei bem dizer onde estou. O nevoeiro que se abate sobre os meus olhos vai-se dissipando lentamente. Começo a distinguir um farto bigode e uns negros olhos que me fitam...Arrepio-me. É a mãe....
Quando finalmente me sinto acordado e consciente, ela pergunta-me se já a consigo ver e ouvir bem. Aceno afirmativamente com a cabeça.
Bem ao seu estilo, a P*TA diz-me:
- Meu grandessíssimo CAR**HO, esta é para aprenderes a não ir brincar para a savana e a não sujares a M*RDA da roupa com esse teu sangue amaldiçoado!
Recordo-me apenas do som seco do punho a embater na minha nuca.
O mundo apaga-se de novo...
Joel, 6 de Julho de 1970, Anarquim de Baixo
2 comentários:
"abacacheira"?????????????????????????
é uma árvore que nasce exclusivamente em Anarquim (e dá Abacachões)
Joel
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