domingo

o Fumo

Uma densa núvem de fumo paira sobre Anarquim.
Há três dias que um monstruoso fogo consome a descomunal plantação de rapigos da quinta dos Polinésios. Não é porém um fumo desagradável. De todo...
Quando inalado, despoleta nos habitantes reacções que roçam o absurdo. Eis uma compilação das situações que testemunhei enquanto caminhava para a padaria do Mestre Alfeu:
-A dona Ricardeta corria de um lado para o outro, completamente desnudada, gritando : " Sim, D.Afonso! Fui eu quem colou a peúga ao mastro da bandeira de Jacarta!"
- João Albino contava o número de folhas da oliveira das aparições, defendendo que ao obter o número total de folhas e dividir o mesmo pelo número de azeitonas, se obteria a fórmula quimica para cura da espandilose.
- A banda filarmónica de Anarquim saiu à rua vestido de verde florescente, entoando "A ode à alface". O povo batia palmas e gritava nas entrelinhas:"ALFACE! TOMATE! QUEM NÃO GOSTA QUE SE MATE!"
O cenário surreal conheceu o momento de apóteose aquando da chegada de Arlindo Visco. Sentado no seu tractor, gritava histérico, intitulando-se o "O castigador das almas podres". Um por um, Arlindo resolveu esmagar debaixo do seu veículo toda a populaça que se encontrava na praça.
Um mar de sangue inundou a baixa. Mas logo se estipulou o seu reaproveitamento: os sobreviventes do massacre trouxeram arroz e cebolas para a rua e confeccionou-se a cabidela mais gostosa que alguma vez saboreei.
Pela noite dentro, orgias macabras sucederam-se a um ritmo alucinante em qualquer recanto da aldeia.
Que prossiga o fogo!
Joel, 19 de Junho de 2005, Anarquim de Baixo

2 comentários:

Anónimo disse...

"MILHO!! FEIJÃO!!, QUEM NÃO GOSTA DE LEITÃO!!

Anónimo disse...

Excellent, love it! » »