O pai morreu faz hoje oito dias...mas continuamos a ser alimentados a pão e coentros. Porquê? Não sei...perguntem à mãe. Quando o fiz recebi em troca uma amável chapada na face esquerda. Não esperem que o faça outra vez. De ora avante impera a lei do come e cála.
Malditos coentros...Juro que se descubro quem descobriu os seus poderes culinários, aniquilarei qualquer hipótese de esse génio voltar a andar.
Ai pai...fazes uma certa falta aqui em casa...já ninguém chega a roupa ao pelo à mãe...
Se eu pudesse...se eu pudesse matava-a...Mas não posso...
Hoje não.
Quando penso em ti, meu pobre pai...recordo-me daquela maravilhosa tarde em que me ensinaste a amanhar as tripas de um rato.
É engraçado...Quando alguém parte surgem-nos à memória pequenos momentos que ansiamos poder reviver uma vez mais, mais intensamente, mais peculiarmente, mais...apenas mais.
Trocava o mundo para te poder ter ao meu lado pai, enquanto me indicas o melhor sitio por onde começar a estrinchar o pobre rato que aínda espasma.
Acho que quando a mãe morrer vou sorrir...vou agradecer a Deus o eterno castigo que estou certo que lhe será aplicado.
E não a vou recordar...Eu sei que não...
joel, 23 de abril de 1970, Anarquim de Baixo
segunda-feira
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