terça-feira

Malditas leis!

Acordei, lavei a cara no charco sujo que a chuva matutina proporcionou. Respirei fundo e pensei para os meus botões: “ Boa sorte puto!”.
Caminhei em passos largos para a Junta. Debaixo do braço, levava “ A chacina”, a obra-prima que criei.
Chegado ao destino, requeri uma “audiência” (sim, porque para a recepcionista o facto de eu dizer que queria falar com o Sr. Esdrubal Gonçalves soaria a provocação) com o presidente da Junta.
Foi-me pedido que aguardasse “alguns minutos”, porque o Sr.Presidente estava numa importante reunião. A verdade é que esses minutos foram horas...Duas horas e vinte e três minutos, para ser mais preciso. Creio que contei mais de cem vezes o número de acnes que a recepcionista tinha na cara.
Mas enfim, lá acabei por ser recebido, sem que me apercebesse dos restantes elementos presentes na "reunião".
Entrei, sentei-me na incrivelmente desconfortável e pêndula cadeira de madeira.Expus o assunto que ali me trouxe:
“ Senhor presidente, gostaria de saber qual a receptividade que Anarquim disponibilizaria para encenar uma peça de teatro que escrevi...”
“Bom, jovem...” - respondeu hesitante – “Anarquim nunca fecha os olhos à cultura...Aliás, amanhã mesmo inauguramos a SACSC (Semana dos Anarquenses Com A Segunda Classe). Mas diz-me lá pequeno...de que peça se trata?”
“Aqui tem”- respondi prontamente, sem conseguir evitar que um largo sorriso orgulhoso me escapasse da boca.
O senhor presidente pegou nas folhas, sentou-se e iniciou a leitura em silêncio. A partir desse momento, o seu olhar tornou-se carregado, surpreso, alternando a folha de papel com a minha pessoa. Apenas uma tosse forçada interrompia o pesado silêncio que de imediato se fez sentir.
Concluida a leitura, o Sr. Esdrubal pediu licença e saíu, justificando que tinha que ir à casa de banho...
Do silêncio, escutei um longinquo som que se assemelhava ao de um vómito.
“Humm...” – pensei para mim – “ Algo me diz que não gostou!”
Voltou à sala poucos minuos depois, trazendo consigo um sorriso que me deixou mais tranquilo.
“Desculpa lá isto...É que tive a comer torresmos em jejum, caíram-me mal. Sabes míudo...” – disse com a maior das serenidades – “A peça está boa, tem conteúdo, tem emoção, tem drama, tem acção...Mas creio que não é de todo viável a sua encenação em Anarquim...”
Desapontado, inquiri o presidente sobre o motivo pelo qual tomara esse veredicto.
Respondeu-me:
“O uso de palavras obscenas em Anarquim apenas é permitido por lei a partir da meia noite...e a essa hora a sala de espectáculos de Anarquim (um casebre nojento a caír de podre) está alugado pela AATD (Associação de Aperfeiçoamento das Técnicas de Dominó)...Lamento.”

Contra estes argumentos, não havia contra-ataque possível... “A chacina” sem calão seria como jogar ao bate pé só com beijos na cara...

Joel, 24 de Maio de 1970, Anarquim de Baixo

5 comentários:

Anónimo disse...

que GRANDE. sempre com inspiração...

Anónimo disse...

oi...eu li o teu blog...e adorei... além de teres uma grande imaginação... tu escreves mtttt bem..De 0 a 20...hmm...21!!! continua...***

fredrich disse...

obrigado =) ***

Anónimo disse...

Cool blog, interesting information... Keep it UP new volkswagen gti commercial Custom car alarm car insurance rate product design firms confidentiality agreement patent Link http www.news medical.net keyword zyrtec volkswagen beetle muffler dolce and gabbana light blue perfume discount Atlas moving company rochester ny Ferrari 365 gt 22b2 12f18 scale volkswagen thing picture

Anónimo disse...

This is very interesting site... »