quinta-feira

A peça

Estava a tentar adormecer quando idealizei aquilo que poderá um dia vir a ser a grande peça de teatro da actualidade. Eis os actos:


A CHACINA

ACTO 1

A acção desenrola-se numa divisão que alberga cozinha e sala de refeições. As paredes de pedra negra transmitem uma luminosidade obscura ao ambiente. Junto a uma bancada de pedra, uma mulher descasca feijão verde para dentro de um grande alguidar.
No centro, junto a uma pequena mesa de madeira podre, encontra-se o seu filho sentado numa cadeira de vime a rabiscar no seu pequeno caderno.
Sem nunca estabelecer um contacto visual, a mãe inicia a conversa:

MÃE: (com uma voz grosseira e autoritária)

“ Oh puto do c***lho, vai ali atrás à horta apanhar umas folhas de couve para pôr na sopa”

O filho fita-a de alto abaixo com desdem e responde-lhe à letra.

JOEL: (revoltado) “Fo**-se! Vai tu, oh velha do c***lho!

A mãe aparenta estupefacção com a bravura da resposta do rebento. Quando se prepara para se virar e lhe espetar um murro nas fussas, Joel, em antecipação, espeta-lhe com um garfo na testa.
A mãe cai redonda no chão. Joel verifica-lhe a pulsação. Ergue as mãos para o céu e exclama:

JOEL: Hihihi, finalmente matei a P*TA!! Aleluia!!!

Desconfiado, certifica-se que ninguém se encontra em casa. Arrasta o corpo para as traseiras da habitação, onde cava um imenso buraco. Antes de lançar o corpo inerte para o seu interior, dirige-se à arrecadação, de onde regressa com um serrote. Olha de novo em redor. Urina para dentro do buraco. Lança o corpo para o seu interior. Tapa-o e entra em casa, levando algo na mão.

FIM DO ACTO 1

ACTO 2

A acção desenrola-se de novo no compartimento que alberga cozinha e sala de refeições. À mesa, cinco irmãos ceiam. O silêncio é apenas interrompido pelo som dos talheres e do mastigar de alimentos. Até que Rafa decide falar...

RAFA: (curioso) “ Oh Joel, mas explica lá melhor, que aínda não entendi...Onde está a mãe?”

Joel aparenta impaciência...Coça a cabeça, respira fundo e dispara:
“ Olha Rafa, a mãe ESTÁ ENTERRADA LÁ ATRÁS. SE FORES LÁ VER, NOTARÁS QUE LHE FALTA UM BRAÇO. JÁ AGORA IRMÃOS, DIGAM-ME LÁ... NÃO ESTÁ DELICIOSO ESTE ASSADO DE COTOVELO?! A MÃE É OU NÃO É UM RICO PITÉU???”

Os mais novos reagem gritando, chorando, babando-se. Rafa levanta-se e olha Joel nos olhos. Assim que tenta esboçar um movimento na sua direcção,Joel corta-lhe a garganta com a faca do pão. O pânico instala-se. Os choros e os gritos aumentam. Joel ri-se desalmadamente. E um a um, corta a goela a todos os irmãos.

Coberto de sangue, Joel toma um copo de vinho tinto e adormece em cima da mesa.

FIM


Agora digam-me se não foi a melhor peça que leram nos últimos tempos.!

Joel, 19 de Maio de 1970, Anarquim de Baixo