quinta-feira

ADN(ádega)

A minha alma está parva.

Saber que o meu pai reencarnou num urso maquiavélico, que pretende com o uso da força juntar a si os entes queridos é algo que não cabe na cabeça de uma pessoa minimamente sã.
Será que o avô está demente? Hum…será que o avô é de facto o avô?

Havia que fazer a prova.

Quando era pequeno, recordo-me da impressionante história de como o avô logrou sobreviver à célebre Guerra da Baía dos Alicates, que opôs anarquinos e pseudo-liberais.
O avô Tamudio participou na mesma, desempenhando o papel de juiz auxiliar.
Numa jogada mais polémica, um anarquino disparou um tiro antes de os pseudo-liberais formarem barreira.
Tamudio, distraído, validou de imediato o disparo, anunciando a morte do atleta, tendo consequentemente ordenado a sua queima com gasolina.
A ira tomou conta dos pseudo-liberais, sendo que o seu adversário passou a ser Tamudio, e não os Anarquinos.
Num ápice, o avô viu-se na mira de centenas de guerreiros enfurecidos. Não havia outra hipótese senão a de fugir, o mais rápido que conseguisse.

Miraculosamente, alcançou escapar com vida ao ataque, tendo no entanto levado como recordação três chumbos que se alojaram na sua nádega esquerda.
Portanto, para saber se a carcaça que ao meu lado ressonava como um porco selvagem se tratava de facto de Tamúdio, teria que lhe ver a nádega.
Não era o plano mais agradável do mundo, mas tinha que o fazer.
Assim, delicadamente, como se desnudasse uma jovem princesa adormecida, baixei-lhe as calças.
Marcas de balas? Nem vê-las.
Apenas uma frase tatuada que dizia:

"Porque raio me estás a ler as nádegas?”

Hum…está na hora de partir.

Adeus carcaça.

Joel, 30 de Setembro de 1970, Bosque.


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